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Diário do dragão.

 "As velhas páginas escritas em um idioma ancestral finalmente foram encontradas e decifradas, levando aos homens uma parte do esplendor que é a vida do dragão"
  Ou dos dragões, como é o nosso caso, e, talvez, nossas páginas não sejam repletas de tamanho esplendor ou glória como diziam as antigas escrituras humanas, mas afinal, o que pode limitar o brilho de nossa imaginação se não nossas próprias mentes?
 É com grande alegria que abro assim, oficialmente, o diário do dragão, que, como descrevi no post anterior, foi desenvolvido visando um momento de diversão e maior contato entre autor/leitor. Espero por meio destes textos gerar, mesmo que por um breve momento, um leve sorriso, um suspiro ou qualquer coisa do gênero. Sem mais delongas, vamos ao que interessa:


A queda de Tharenthis

A quietude da noite era perturada há horas pelos gritos infernais que subiam das entranhas da terra e saíam pelas aberturas das cavernas, no meio da floresta. Os animais estavam inquietos, a todo momento ouvia-se urros, passos fortes contra a rocha fria, ossos caindo e, hora ou outra, um tênue som que era preferível não ser ouvido, um som que lembrava um cântico de mal algouro, embalado em uma melodia pesada que trazia agonia aos corações de quem o ouvia.
Os três companheiros já corriam há muito, lamentando-se a cada novo passo do quarto amigo deixado para trás, por opção do mesmo, para que pudessem escapar daquele ninho de necromantes e suas conjurações. Seus corpos estavam cansados e feridos, e um deles ainda trazia, carregadando nas costas, um corpo desfalecido de uma donzela salva havia pouco tempo. Os servos dos necromantes os perseguiam e eram inevitáveis as batalhas, batalhas essas que a cada nova repetição ofereciam menos esperanças de vida...
Por mais que corressem o máximo que suas pernas permitiam naquele momento, os três pareciam nunca alcansar a saída, iluminada pela fantasmagórica luz da lua, e incontável lhes pareceu o tempo da fuga. Até que... quando finalmente se aproximaram da saída, lufadas de ar golpearam-lhes a face, purificando os pulmões que estavam fatigados do ar mórbido da caverna. Lufadas que se intensificavam a cada segundo, com o aumento de um estrondo verossimilar ao de um tornado destruídor se aproximando.
E o rugir de um trovão ecoou por toda a caverna, fazendo com que os perseguidores parassem de imediato, paralisados de medo por alguns segundos, de modo que os perseguidos tivessem uma rápida vantagem na fuga, conseguindo assim finalmente a benção do ar livre. E la fora, às portas da caverna, a magestosa besta os aguardava, como um fiel cão de guarda que anseia pelo retorno do dono. Mas, ao invés de um cão, lá estava ele, o grandioso Yrdrath, O Verde. E pouco foi o tempo que o grupo teve para subir por suas asas e sentar-se em suas costas antes que a horda de mortos surgisse pela entrada da caverna.
A dor pelo amigo deixado para trás era maior agora, e sua esperança de revê-lo subitamente despencou, deixando uma sombra a pairar sobre o coração de todos. Era clara a certeza de que a ruína do mago finalmente havia chegado.
E não tardou para que, depois de alçado o voo do dragão, uma massiva onda de energia arcana eclodisse atrás deles, elevando ao ar uma grande nuvem de poeira, iluminada por uma luz que variava do azul claro ao púrpura, e o estrondo causado pela explosao feriu até mesmo aos ouvidos do dragão, que juntamente com Eldren, Nina e Theon, entregou-se às lágrimas, enquanto voava para longe do local, que seria condenado para sempre pelos deuses.
Afinal, ali, naquele floresta ao sudeste do mundo caiu Tharenthis, o Último Arquimago, renegado pelo pai, que se sacrificou para salvar a vida do tão amado irmão, e garantir que o mundo mais uma vez sobrevivesse à noite temível e pudesse ver de novo a aurora da vida. Ali, naquele momento, caiu Tharenthis, dando início a um legado que iria mudar aquele mundo para semrpe.
                                                  - Relatos da chegada da última sombra.


O badalar de Nellgobell
    Todos os olhos estavam voltados à escada que dava acesso à pequena câmara situada no penúltimo andar da torre do palácio. Os lordes e ladies ali presentes estavam angustiados, e aqueles que ali não se encontravam vigiavam atentos pelas persianas entre-abertas ou escotilhas, a situação na cidade era crítica.
    Eldren observava tudo com olhar de desaprovação. De repente tudo havia caído, seus medos, até então sem motivo aparente, se confirmado. Àquela hora seus homens estavam banhados de sangue ou mergulhados nele. Tudo o que havia lutado e sofrido para construir ruía, sua cabeça ainda estava aturdida com toda a confusão em Nellgobell. "Se Bharesh estivesse aqui..." não era a  primeira, muito menos a última vez que aquele pensamento rondava sua mente. 
    Enquanto isso Marielle estava desesperada, tudo havia mudado, seus amigos jaziam caídos sob lanças e espadas com os peitos abertos. Sua ideia sobre a glória das batalhas mudado, seu companheiro Arkhadios tombara para salvar sua vida. Vida... pela primeira vez em seus vinte anos ela havia tirado uma vida, havia usado seus dons para causar a destruição. De certa forma aquela era a parte que menos lhe perturbava apesar de tudo. 




    O que importava agora era sair dali, deixar que a cidade fosse tomada era a única chance de garantirem suas vidas, teriam de deixar que Nellgobell caísse nas mãos de orcs e acólitos de Zanark sem saber quais fins obscuros teriam os habitantes da cidade outrora alegre e gloriosa. E era nisso que os magos e soldados trabalhavam no andar superior, tentavam encontrar uma passagem esquecida enquanto lá fora, nas outras torres e templos da cidade os sinos transmitiam o badalar de Nellgobell em triste tom de desesperada agonia.

Narrando narradores
    As pontas dos lápis batiam de maneira ansiosa na superficie daquilo que outrora fora um alvo papel, e agora era um papel repleto de rabiscos e borrões, um papel que carregava parte da história de cada um deles ali em torno da mesa. Em todos os rostos via-se uma expressão tensa, séria... todos encaravam aquele homem que se escondia atrás de seu escudo. Não um escudo de metal e couro como aqueles que os personagens de sua imaginação seguravam, mas um escudo de papel e tinta, que o protegia de maneira excelente contra os olhares indesejados.
  Ou não... aquele homem sempre se sentia desconfortável quando erguia seu escudo e preparava-se para atacar, soltando atrás de sua proteção seus dados, o destino de todos ali em apenas dois objetos cúbicos. Oh... aquele era o momento de maior tensão na mesa. Várias vezes os olhos do narrador discretamente buscaram aquela pessoa com a qual a amizade era maior, depois voltou a fitar os dados, suspirante.  De repente, a defesa se abaixa revelando aos jogadores o estrago da batalha.
  Novamente tensão e desconforto caíram sobre o mestre, assim como os olhares desconfiados dos jogadores.
  — Os dados foram manipulados! - não demorou para que alguém disparasse contra o mestre diante do resultado desastroso para o grupo - Por que os críticos só aparecem atrás de seu escudo?
  O suspiro ressentido do mestre mais uma vez foi ouvida, não a última durante aquela campanha. Aquela era sua sina, seu carma, toda vez que o grupo estava em situação crítica, um crítico saía detrás de seu escudo, piorando ainda mais o ânimo geral. E aí vinham as acusações e revoltas. "E nossa amizade, como fica?" "Me esforcei tanto para criar esse personagem pra ele simplesmente morrer nas mãos de um sádico!?"
  Fizesse o que fizesse, no fundo, assim como todos os mestres, ele sabia que não havia como agradar totalmente o grupo, ou desagradar totalmente, afinal, mestres amam seus jogadores e os jogadores amam seus mestres. E será assim para sempre, com conflitos ou gargalhadas.
  


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